segunda-feira, 4 de junho de 2007

Empresas privadas concentram quase 80% das estações TV na Venezuela

Por esta sintética e bem informada resenha da concentração dos meios de comunicação social e audiovisual no poder económico pode constatar-se como, ao contrário do que manipuladora e concentrada comunicação social de referência (internacional e nacional) pretende fazer crer, a não renovação da licença à Rádio Caracas Televisión (RCTV) foi uma medida em defesa do direito do povo venezuelano à informação.
Stella Callón

A agitação internacional dos meios de comunicação massiva contra a decisão do presidente Hugo Chávez de não renovar a concessão outorgada há mais de 50 anos à Radio Caracas Televissión (RCTV), tenta evitar “que mude a grave desigualdade no uso do espectro radioeléctrico na Venezuela, apesar de ser considerado um bem de domínio público no país”, sublinharam funcionários venezuelanos a este jornal [Transfondo].

Também advertiram sobre o carácter desestabilizador da campanha “tergiversando sobre a natureza constitucional da decisão”, como disse o o ministro do Poder Popular para a Comunicação e Informação (MINCI), William Lara.

Disse ainda que se “discute uma decisão soberana e se tenta questionar a administração do Estado em áreas estratégicas, tal e como estabelece o texto constitucional na manutenção da nossa soberania nacional”.

De acordo com os dados da entidade reguladora da Comissão Nacional de Telecomunicações (CONATEL) do passado dia 27 de Janeiro, 78% das estações de televisão em VHF são utilizadas pelo sector privado, e apenas 22% pelo sector público; e na banda UHF, 82% são operadas por privados; 7% pelo sector público e 11% por operadores de serviços comunitários.

O poder mediático

No Livro Branco sobre a RCTV publicado pelo MINCI, um grupo d investigadores demonstram a enorme concentração em mãos privadas dos meios radioeléctricos da Venezuela, como se viu no chamado “golpe mediático” (de Estado) em 11 de Abril de 2002.

Gustavo Hernandez, citado nesse livro, adverte que não se pode chamar “misto” ao sistema de radiodifusão que impera no país, quando há uma “coexistência na desigualdade” entre o regime privado e do público.

Isto sucede desde que os governos de Eleazar López Contreras (1936-1941) e Marcos Pérez Jimenes (1946-1958) outorgaram 27 licenças de radiodifusão sonora e quatro de televisão a sectores privados.

Os verdadeiros donos do espectro radioeléctrico venezuelano são a RCTV e Venevisión que concentram 85% do investimento publicitário em meios de comunicação do país, têm 66% do poder de transmissão, dominam as redes transmissoras e de difusão do sinal e controlam 80% da produção e elaboração de mensagens e conteúdos que se difundem na Venezuela” sublinha Hernández.

A investigação revela a estructura interna dos principias grupos de poder mediático encabeçados pela Organização Cisneros (ODC) Venevisión “uma holding com tendência globalizante e investimentos em diversas áreas económicas”. Só a indústria de espectáculos trouxe-lhe lucos de cinco mil milhões de dólares

A ODC “tem uma importante participação na Chilevisão (Chile), Caracol (Colômbia) N Caribe (Caribean Communication Network) para além da Venevisión, e é o maior accionista da cadeia estadunidense Univisión e do sinal da Galavisión para o público de língua espanhola dos Estados Unidos.

E também na Aol Latinoamérica que, conjuntamente com On Line, é um dos principais servidores de Internet, controlando importantes portais. Além disso é dono de 80 empresas a nível nacional e internacional em diversos sectores, todos estratégicos.

O grupo é formado por Gustavo, Ricardo e Marion Cisneros e a maioria das suas empresas “não possui accionistas directos, mas através de participações cruzadas amplia enormemente o espectro das companhias que maneja” que vão desde produtoras discográficas, Pepsi Cola, cosméticos, Pizza Hut, e uma enorme quantidade de outras empresas nas quais possui mais de 50% das acções.

O grupo Cisneros controla ainda 47,5% do canal de sinal aberto Vale através da sua interligação com capitais estrangeiros, participando assim noutras empresas como a FM Center Concesionaria, cuja direcção faz parte da ODC.

Em segundo lugar está a 1BC.RCTV que – diz o relatório – foi conhecido como grupo Phelps nos anos 20. Em 1929 constituía-se como holding empresarial Sindicato Phelps. Em 1930 derivou para as comunicações, apoiado na RCA – produtora de aparelhos radiofónicos que Phelps distribuía na Venezuela – fundando a 1Broadcasting Caracas (1BC), a primeira emissora comercial do país. Em 1936 assume a denominação de Rádio Caracas Rádio (RCR) e em 1953 aparece a Rádio Caracas Televisión (RCTV).

Este grupo, encabeçado por Peter Bottone, como principal accionista e Marcel Granier Haydon, membro da família Phelps e de outras “possui mais de 80% do capital social de cinco empresas que operam na Venezuela” tais como a RCTV, FM, RCR, Recorland e Línea Aérea Aerotuy.

As empresas onde o grupo não possui 100%, estão juridicamente associadas à estrangeira Coral Sea Inc. “A Coral Pictures, situada em Miami, comercializa a nível mundial a 1BC e embora em menor grau, tem a mesma estrutura de concentração da propriedade da ODC.

Em terceiro lugar refere-se o Grupo Nuñez, Zuluaga, Mezerhane & Ravel, Globovisión. Os seus donos encabeçados por Luís Teófilo Nuñez Arisendi possui 89,9% do capital social do operador de sinal aberto Globovisión e a Monserrt SA detém o resto. Iniciou a sua actividade em 1994 e é o primeiro operador especializado em informação da Venezuela; além da sua ligação à imprensa escrita, tem ligações bancárias, turísticas em que as acções pertencem à empresa estrangeira Humbolt International Limited, detentora inúmeras agências de publicidade.

Em quarto lugar os investigadores colocam o Bloque de Armas Meridiano TV – liderado por Andrés Armando e Martin De Armas Silva – com 100% do operador com o mesmo nome, que tem, além disso, um enorme poder nas indústrias de entretenimento, sendo o resto do capital social da Overseas Trading Investment SA que, por sua vez, é proprietária de jornais e revistas de desporto, entretenimento e da editorial Primavera SA, que edita textos escolares e revistas várias.

Continuando a sequência, vem o Grupo Imagem La Tele, liderado por Fernando Fraíz Trapote, Elias Tarbay Assad e mais quatro sócios, alguns dos quais estão, por sua vez, na Administração da Operadora Cablevisión SA, “apesar de 100% das acções pertencerem à estrangeira Telecom Trading Corporation, ligada à Airtel.

Este grupo “é operador de TV de sinal aberyo UHF, La Tele, que iniciou as suas emissões em Dezembro de 2002” e está ligado a diversas outras empresas muitas delas de publicidade.

Finalmente refere-se o Grupo Camero Televen, formado por Cuatro Treinta CA, associada à Marbrid, empresa com sede no Panamá. Tem ligações ao jornal Quinto Dia, entre outros.

Ainda que resumido, este é o esquema do poder mediático que impera na Venezuela, uma parte do poder económico com multimilionários lucros, agora incrementados com os recebimentos de Washington na guerra suja informativa contra o governo venezuelano.


Nota: Para denunciar a campanha de meias verdades e muitas mentiras contra a Venezuela, a propósito da não renovação da licença à RCTV, um grupo de jovens mobilizou-se à volta do lema “Tirem as mãos da Venezuela” e criou um blog om o seguinte endereço: http://tirem-as-maos-da-venezuela.blogspot.com/

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