sábado, 18 de agosto de 2007

Multinacionais da morte

Os crimes violentos, incluindo assassínios, que as empresas transnacionais instigam, fomentam, patrocinam e executam não são coisas do passado, estão aí para garantir os lucros e a exploração dos povos sem recalcitrantes.

Miguel Suárez - 13.08.07

Na origem do escândalo sobre a condenação da multinacional Chiquita Brands, aliás United Fruit Company , pela justiça imperial, por financiar organizações terroristas, à margem da lei, como se diria na Colômbia, o debate sobre o paramilitarismo e a sua aplicação continua em cima da mesa.

Tomando apenas um exemplo, diz-se que a Coca-Cola Servicios de Colombia, é a companhia mais eficiente do país, graças à aplicação do terrorismo de Estado em que também estão implicadas outras empresas multinacionais como a Drumond, Nestlé, Britisg Petroleoum, Repsol, Oxi etroleum, etc., etc..

As reiteradas denúncias e testemunhos contra estas transnacionais, são prova palpável que o paramilitarismo é a ferramenta de que se valem os exploradores para preservar os seus interesses económicos e políticos que, no caso das multinacionais, lhes garanta copiosos lucros à custa do assassínio de sindicalistas, da destruição de sindicatos e da degradação das condições salariais dos trabalhadores.

A condenação da Chiquita por financiar o paramilitarismo, é só a ponta do iceberg paramilitar que abarca todos os níveis desse Estado oligárquico.•

O paramilitarismo não é um exclusivo da oligarquia colombiana nem tão pouco de Alvaro Uribe Vélez. É até muito claro que durante o seu período como governador de Antioquia, entre 1995 e 1997, um dos seus êxitos foi o impulso dado ao paramilitarismo.

Durante a sus administração, Uribe não só promoveu a criação das Cooperativas de Segurança Privada CONVIVIR, iniciativa destinada a legalizar o paramilitarismo, como também implementou o seu “Estado Comunitário” (Estado mafioso), na zona de Urabá, uma zona com um elevado nível de organização popular, que foi destruída. Devido a este “êxito”, a oligarquia colombiana, no Congresso dos Ganadeiros, em 1996, aprovou a extensão dessa iniciativa de Uribe Vélez à escala nacional e além disso, promover a sua candidatura presidencial em 2002 e reelegeram-no em 2006.

Chiquita é o exemplo de como “o terrorismo de Estado” é aplicado pela oligarquia colombiana desde há muitíssimos anos. O caso do massacre das bananeiras ocorreu na povoação colombiana de Ciénaga em 1928, quando as forças armadas da oligarquia colombiana abriram fogo contra os trabalhadores assassinando mais de mil, com as suas mulheres e filhos para defender os interesses da United Fruit Company, é uma amostra da aplicação do terrorismo de Estado, que tem sido cuidadosamente ocultado ao povo colombiano.

A condenação desta multinacional deve-se a factos parecidos, massacres ocorridos na mesma zona do país, onde, financiando o paramilitarismo, lograram desalojar os camponeses das suas terras, destruídas as outrora fortes organizações sindicais, para assim forjar um império do terror. Estes massacres são apoiados desde Bogotá pelos governos de turno, que por sua vez tomam medidas que legalizam fortunas de origem criminosa, deixam sem castigo os responsáveis do terrorismo de Estado.

A Chiquita não se limitou a fornecer dinheiro a rodos ao paramilitarismo. Também colaborou para que entrassem no país mais de 3000 espingardas AK-47 e milhões de munições que foram parar às mãos dos grupos paramilitares. Na região de Urabá, a zona onde operava a multinacional, registaram-se entre 1997 e 2004, 62 massacres em que morreram 432 pessoas, na sua maioria camponeses pobres, muitos deles trabalhadores das bananeiras.

Além disso, mais de 60 mil pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas, no meio desta limpeza paramilitar impulsionada entre outros por Alvaro Uribe e pelo seu Estado mafioso.

Mas não se trata apenas da Chiquita. A Coca-Cola também tem a sua história.

Na zona de Urabá, a mesma zona onde Uribe implementou o seu “Estado Comunitário” e a mesma zona onde se deu o caso de Chiquita Brands, a Coca-cola iniciou uma experiência financiando paramilitares para destruir a organização sindical, piorar as condições laborais dos seus trabalhadores e perante “êxito” conseguido, tentou implementar a experiência em todo o país à sombra da “Seguridad Democrática” de Alvaro Uribe Vélez.

Em 1992, o Gerente da Coca-Cola, José Gabriel Castro, acusou publicamente os trabalhadores e o sindicato de serem agentes da guerrilha. Em 1995 o exército da oligarquia colombiana arrasou as instalações da Cooperativa dos Trabalhadores ao serviço da Coca-Cola e filiados no SINALTRAINAL, o que repetiu um ano depois o Bloco de Buscas da Polícia.

Em 1996 os paramilitares chegaram à fábrica da Coca-Cola em Carepa e dispararam quatro tiros na cabeça, seis no peito e nos testículos de Isidro Segundo Gil, Secretário-Geral do Sindicato Nacional de Trabalhadores da Indústria de Alimentos, SINALTRAINAL Seccional Carepa.

Depois deste assassinato, os paramilitares entraram pela força na sede sindical, saquearam-na e incendiaram-na.

De seguida convocaram uma reunião de trabalhadores no interior da empresa, onde os ameaçaram de morte, caso não abandonassem o sindicato nessa mesma tarde. Os 43 trabalhadores receberam as cartas de demissão do sindicato dactilografadas nos próprios escritórios da empresa.

Perante a cumplicidade estatal com o paramilitarismo, o sindicato SINALTRAINAL, recorreu à Justiça imperial, que nessa ocasião exonerou a empresa Coca-Cola, que de imediato recorreu à Injustiça colombiana, acusando de terrorismo os sindicalistas que procuravam defender as suas vidas.

O advogado da Coca-Cola neste caso foi Jaime Bernal Cuellar, que foi Procurador-geral da Colômbia entre 1994 e 1999, quando foram denunciados os crimes, e um dos funcionários estatais que nada fizeram para deter os assassinatos.

Para o caso Coca-cola, a política paramilitar traduziu-se na redução de três terços do número de trabalhadores sindicalizados; enquanto que em multinacionais como a Nestlé somente 3% dos trabalhadores chega a dez anos de permanência na empresa.

Sobre a Drummond, uma empresa que se dedica a saquear o carvão da Colômbia, conta Francisco Ramírez Cuellar num artigo intitulado “O que custa assassinar sindicalistas” como foi montado o processo para assassinar os criadores do sindicato nesta empresa.

Diz Cuellar que Valmore Locarno Rodríguez, Víctor Hugo Orcasita Amaya e Gustavo Soler Mora, assumiram a direcção do SINTRAMIENERGÉTICA seccional El Paso, para procurar melhores condições laborais, segurança no trabalho, comida em boas condições, salários dignos, segurança social para os trabalhadores e suas famílias; a resposta da empresa foi acusá-los de guerrilheiros.

Rafael García, ex-chefe de informática do DAS, em declarações ao promotor público, disse ter estado presente quando, num hotel de Valledupar, Augusto Jiménez, presidente da Drummond na Colômbia, se reuniu com um enviado do mafioso Jorge 40, para lhe entregar dinheiro destinado a atemorizar o sindicato.

Em 12 de Março de 2001, semanas depois de entregue o dinheiro por parte de Jiménez, uma camioneta cheia de militares-paramilitares intercepta o autocarro em que iam os trabalhadores, identificam Valmore Locarno Rodríguez e diante dos seus companheiros, assassinam-no com dois disparos na cabeça. De seguida fazem sair do autocarro Víctor Hugo Orcasita Amaya, levam-no na camioneta e horas depois aparece torturado e com várias balas na cabeça; em Outubro desse ano acontece o mesmo com Gustavo Soler Mora, que havia assumido a direcção do sindicato depois do assassinato dos dois companheiros.

Todas as pessoas que queriam trabalhar na Drummond foram submetidas a um detector de mentiras, investigaram-lhes a vida, pediram sobre elas relatórios nos organismos de segurança e procurou-se que os seus “padrinhos” fossem personalidades de Valledupar, amigos dos Araujo ou doutro director da companhia, para garantir que só entrassem pessoas de “confiança” para a empresa mineira.

SINTRAMIENERGÉTICA-FUNTRAENERGETICA e os familiares dos sindicalistas assassinados, perante a impunidade deste processo na Colômbia, e tendo em conta o peso político da Drummond, já que o representante é Fabio Echeverri Correa assessor presidencial de Uribe, optaram por processar a multinacional também na “justiça” imperial.

Sobre as petrolíferas, a Unión Sindical Operária, USO, num documento sobre o tema, diz que “atrás da chegada da British Petroleum Exploration ao Casanare, vieram os paramilitares”.

Diz o documento que, segundo a investigação realizada por Ignacio Gómez sobre o espião alemão Werner Mauss, a história da empresa Sistema de Defensa Limitada, DSL (Defense System Limitada) contratada pela BP para fazer a sua segurança na Colômbia, está intimamente ligada com o aparatoso sistema de defesa britânico e que tem ingerência directa no conflito social e armado que a Colômbia atravessa e que a DSL treina grupos paramilitares.

Um artigo publicado em 2002 no Los Angeles Times, denunciava-se que a OXY pagava 750 000 dólares às forças de segurança colombianas e a Sociedade Cravo Norte - propriedade da ECOPETROL e da OXY, que actua na jazida petrolífera de Caño Limón – firmou em 1996 um “acordo de colaboração” anual de quase dois milhões de dólares para financiar economicamente as unidades da brigada XVIII que cobriam as zonas vizinhas da jazida.

Segundo o documento da USO, estão presentes no país aproximadamente vinte multinacionais do petróleo e que apesar de terem denunciado a British, nada indica que as restantes companhias não recorram, em maior ou menor escala, aos mesmos procedimentos para garantir os seus investimentos e a sua segurança.

É de mencionar que a Repsol e a OXY invadiram o território indígena U`wa em busca de petróleo, sem o consentimento das comunidades e violando os seus territórios, em clara transgressão da Constituição Colombiana, sendo protegidos os seus bens e maquinarias por forças militares-paramilitares, que assassinaram vários líderes indígenas.

Diversos agrupamentos sociais, de carácter religioso e partidos políticos suíços, integrados na organização Multi Watch, convocaram uma audiência pública para os dias 29 e 30 de Outubro de 2005, em Berna, para analisar as denúncias de trabalhadores da Nestlé na Colômbia , segundo as quais a empresa helvética incorreu em práticas anti-sindicais que vem utilizando desde há muito tempo, relacionadas também com a morte e desaparecimento de alguns trabalhadores.

Conforme temos visto nos últimos tempos na Colômbia, onde o presidente é um homem com passado de narcotraficante e de paramilitarismo, com ministros cujas famílias estão ao serviço do narcotráfico, onde os ex-procuradores se convertem em advogados das multinacionais que fomentam o paramilitarismo, multinacionais que são, por sua vez, representadas por altos funcionários estatais, com comandantes militares manchados pelo narcotráfico e com parlamentares que ao mesmo tempo que aprovam novas leis, ordenam novos massacres, não deve haver dúvida de como até que ponto o paramilitarismo é uma ferramenta do terrorismo de Estado aplicado por esta oligarquia para paralisar o protesto social, destruir organizações populares para eles continuarem enriquecendo, em detrimento do país e do povo.

A lista de multinacionais que apoiam o terrorismo de Estado na Colômbia, é muito grande e entre elas destacam-se Chiquita, Coca-cola, Nestlé, Drumon, British Petroleum, Oxi, Repsol, etc,

O paramilitarismo e Alvaro Uribe Velez, são sinónimo de morte. É preciso recordar que entre 1995 e 1997, quando Uribe foi governador de Antioquia, se desencadeou a mais feroz arremetida contra a União Patriótica exterminando este movimento em Urabá e implantando o “Estado Comunitário”, hoje conhecido como “Segurança Democrática”, projecto de Pax romana que se pretende aplicar em todo o país, no qual a participação das multinacionais, financiando a guerra contra o povo, constitui um elo fundamental.

Os dados reflectem um panorama desolador de desaparecimentos, assassinatos a sangue frio que, apenas no primeiro mandato de Uribe, chegaram aos onze mil casos, uns 62 mil exilados e cerca de quatro milhões de deslocados internos, que são o produto do intento de aplicar em todo o país, o que Uribe fez em Urabá.


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