sábado, 18 de agosto de 2007

Multinacionais da morte

Os crimes violentos, incluindo assassínios, que as empresas transnacionais instigam, fomentam, patrocinam e executam não são coisas do passado, estão aí para garantir os lucros e a exploração dos povos sem recalcitrantes.

Miguel Suárez - 13.08.07

Na origem do escândalo sobre a condenação da multinacional Chiquita Brands, aliás United Fruit Company , pela justiça imperial, por financiar organizações terroristas, à margem da lei, como se diria na Colômbia, o debate sobre o paramilitarismo e a sua aplicação continua em cima da mesa.

Tomando apenas um exemplo, diz-se que a Coca-Cola Servicios de Colombia, é a companhia mais eficiente do país, graças à aplicação do terrorismo de Estado em que também estão implicadas outras empresas multinacionais como a Drumond, Nestlé, Britisg Petroleoum, Repsol, Oxi etroleum, etc., etc..

As reiteradas denúncias e testemunhos contra estas transnacionais, são prova palpável que o paramilitarismo é a ferramenta de que se valem os exploradores para preservar os seus interesses económicos e políticos que, no caso das multinacionais, lhes garanta copiosos lucros à custa do assassínio de sindicalistas, da destruição de sindicatos e da degradação das condições salariais dos trabalhadores.

A condenação da Chiquita por financiar o paramilitarismo, é só a ponta do iceberg paramilitar que abarca todos os níveis desse Estado oligárquico.•

O paramilitarismo não é um exclusivo da oligarquia colombiana nem tão pouco de Alvaro Uribe Vélez. É até muito claro que durante o seu período como governador de Antioquia, entre 1995 e 1997, um dos seus êxitos foi o impulso dado ao paramilitarismo.

Durante a sus administração, Uribe não só promoveu a criação das Cooperativas de Segurança Privada CONVIVIR, iniciativa destinada a legalizar o paramilitarismo, como também implementou o seu “Estado Comunitário” (Estado mafioso), na zona de Urabá, uma zona com um elevado nível de organização popular, que foi destruída. Devido a este “êxito”, a oligarquia colombiana, no Congresso dos Ganadeiros, em 1996, aprovou a extensão dessa iniciativa de Uribe Vélez à escala nacional e além disso, promover a sua candidatura presidencial em 2002 e reelegeram-no em 2006.

Chiquita é o exemplo de como “o terrorismo de Estado” é aplicado pela oligarquia colombiana desde há muitíssimos anos. O caso do massacre das bananeiras ocorreu na povoação colombiana de Ciénaga em 1928, quando as forças armadas da oligarquia colombiana abriram fogo contra os trabalhadores assassinando mais de mil, com as suas mulheres e filhos para defender os interesses da United Fruit Company, é uma amostra da aplicação do terrorismo de Estado, que tem sido cuidadosamente ocultado ao povo colombiano.

A condenação desta multinacional deve-se a factos parecidos, massacres ocorridos na mesma zona do país, onde, financiando o paramilitarismo, lograram desalojar os camponeses das suas terras, destruídas as outrora fortes organizações sindicais, para assim forjar um império do terror. Estes massacres são apoiados desde Bogotá pelos governos de turno, que por sua vez tomam medidas que legalizam fortunas de origem criminosa, deixam sem castigo os responsáveis do terrorismo de Estado.

A Chiquita não se limitou a fornecer dinheiro a rodos ao paramilitarismo. Também colaborou para que entrassem no país mais de 3000 espingardas AK-47 e milhões de munições que foram parar às mãos dos grupos paramilitares. Na região de Urabá, a zona onde operava a multinacional, registaram-se entre 1997 e 2004, 62 massacres em que morreram 432 pessoas, na sua maioria camponeses pobres, muitos deles trabalhadores das bananeiras.

Além disso, mais de 60 mil pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas, no meio desta limpeza paramilitar impulsionada entre outros por Alvaro Uribe e pelo seu Estado mafioso.

Mas não se trata apenas da Chiquita. A Coca-Cola também tem a sua história.

Na zona de Urabá, a mesma zona onde Uribe implementou o seu “Estado Comunitário” e a mesma zona onde se deu o caso de Chiquita Brands, a Coca-cola iniciou uma experiência financiando paramilitares para destruir a organização sindical, piorar as condições laborais dos seus trabalhadores e perante “êxito” conseguido, tentou implementar a experiência em todo o país à sombra da “Seguridad Democrática” de Alvaro Uribe Vélez.

Em 1992, o Gerente da Coca-Cola, José Gabriel Castro, acusou publicamente os trabalhadores e o sindicato de serem agentes da guerrilha. Em 1995 o exército da oligarquia colombiana arrasou as instalações da Cooperativa dos Trabalhadores ao serviço da Coca-Cola e filiados no SINALTRAINAL, o que repetiu um ano depois o Bloco de Buscas da Polícia.

Em 1996 os paramilitares chegaram à fábrica da Coca-Cola em Carepa e dispararam quatro tiros na cabeça, seis no peito e nos testículos de Isidro Segundo Gil, Secretário-Geral do Sindicato Nacional de Trabalhadores da Indústria de Alimentos, SINALTRAINAL Seccional Carepa.

Depois deste assassinato, os paramilitares entraram pela força na sede sindical, saquearam-na e incendiaram-na.

De seguida convocaram uma reunião de trabalhadores no interior da empresa, onde os ameaçaram de morte, caso não abandonassem o sindicato nessa mesma tarde. Os 43 trabalhadores receberam as cartas de demissão do sindicato dactilografadas nos próprios escritórios da empresa.

Perante a cumplicidade estatal com o paramilitarismo, o sindicato SINALTRAINAL, recorreu à Justiça imperial, que nessa ocasião exonerou a empresa Coca-Cola, que de imediato recorreu à Injustiça colombiana, acusando de terrorismo os sindicalistas que procuravam defender as suas vidas.

O advogado da Coca-Cola neste caso foi Jaime Bernal Cuellar, que foi Procurador-geral da Colômbia entre 1994 e 1999, quando foram denunciados os crimes, e um dos funcionários estatais que nada fizeram para deter os assassinatos.

Para o caso Coca-cola, a política paramilitar traduziu-se na redução de três terços do número de trabalhadores sindicalizados; enquanto que em multinacionais como a Nestlé somente 3% dos trabalhadores chega a dez anos de permanência na empresa.

Sobre a Drummond, uma empresa que se dedica a saquear o carvão da Colômbia, conta Francisco Ramírez Cuellar num artigo intitulado “O que custa assassinar sindicalistas” como foi montado o processo para assassinar os criadores do sindicato nesta empresa.

Diz Cuellar que Valmore Locarno Rodríguez, Víctor Hugo Orcasita Amaya e Gustavo Soler Mora, assumiram a direcção do SINTRAMIENERGÉTICA seccional El Paso, para procurar melhores condições laborais, segurança no trabalho, comida em boas condições, salários dignos, segurança social para os trabalhadores e suas famílias; a resposta da empresa foi acusá-los de guerrilheiros.

Rafael García, ex-chefe de informática do DAS, em declarações ao promotor público, disse ter estado presente quando, num hotel de Valledupar, Augusto Jiménez, presidente da Drummond na Colômbia, se reuniu com um enviado do mafioso Jorge 40, para lhe entregar dinheiro destinado a atemorizar o sindicato.

Em 12 de Março de 2001, semanas depois de entregue o dinheiro por parte de Jiménez, uma camioneta cheia de militares-paramilitares intercepta o autocarro em que iam os trabalhadores, identificam Valmore Locarno Rodríguez e diante dos seus companheiros, assassinam-no com dois disparos na cabeça. De seguida fazem sair do autocarro Víctor Hugo Orcasita Amaya, levam-no na camioneta e horas depois aparece torturado e com várias balas na cabeça; em Outubro desse ano acontece o mesmo com Gustavo Soler Mora, que havia assumido a direcção do sindicato depois do assassinato dos dois companheiros.

Todas as pessoas que queriam trabalhar na Drummond foram submetidas a um detector de mentiras, investigaram-lhes a vida, pediram sobre elas relatórios nos organismos de segurança e procurou-se que os seus “padrinhos” fossem personalidades de Valledupar, amigos dos Araujo ou doutro director da companhia, para garantir que só entrassem pessoas de “confiança” para a empresa mineira.

SINTRAMIENERGÉTICA-FUNTRAENERGETICA e os familiares dos sindicalistas assassinados, perante a impunidade deste processo na Colômbia, e tendo em conta o peso político da Drummond, já que o representante é Fabio Echeverri Correa assessor presidencial de Uribe, optaram por processar a multinacional também na “justiça” imperial.

Sobre as petrolíferas, a Unión Sindical Operária, USO, num documento sobre o tema, diz que “atrás da chegada da British Petroleum Exploration ao Casanare, vieram os paramilitares”.

Diz o documento que, segundo a investigação realizada por Ignacio Gómez sobre o espião alemão Werner Mauss, a história da empresa Sistema de Defensa Limitada, DSL (Defense System Limitada) contratada pela BP para fazer a sua segurança na Colômbia, está intimamente ligada com o aparatoso sistema de defesa britânico e que tem ingerência directa no conflito social e armado que a Colômbia atravessa e que a DSL treina grupos paramilitares.

Um artigo publicado em 2002 no Los Angeles Times, denunciava-se que a OXY pagava 750 000 dólares às forças de segurança colombianas e a Sociedade Cravo Norte - propriedade da ECOPETROL e da OXY, que actua na jazida petrolífera de Caño Limón – firmou em 1996 um “acordo de colaboração” anual de quase dois milhões de dólares para financiar economicamente as unidades da brigada XVIII que cobriam as zonas vizinhas da jazida.

Segundo o documento da USO, estão presentes no país aproximadamente vinte multinacionais do petróleo e que apesar de terem denunciado a British, nada indica que as restantes companhias não recorram, em maior ou menor escala, aos mesmos procedimentos para garantir os seus investimentos e a sua segurança.

É de mencionar que a Repsol e a OXY invadiram o território indígena U`wa em busca de petróleo, sem o consentimento das comunidades e violando os seus territórios, em clara transgressão da Constituição Colombiana, sendo protegidos os seus bens e maquinarias por forças militares-paramilitares, que assassinaram vários líderes indígenas.

Diversos agrupamentos sociais, de carácter religioso e partidos políticos suíços, integrados na organização Multi Watch, convocaram uma audiência pública para os dias 29 e 30 de Outubro de 2005, em Berna, para analisar as denúncias de trabalhadores da Nestlé na Colômbia , segundo as quais a empresa helvética incorreu em práticas anti-sindicais que vem utilizando desde há muito tempo, relacionadas também com a morte e desaparecimento de alguns trabalhadores.

Conforme temos visto nos últimos tempos na Colômbia, onde o presidente é um homem com passado de narcotraficante e de paramilitarismo, com ministros cujas famílias estão ao serviço do narcotráfico, onde os ex-procuradores se convertem em advogados das multinacionais que fomentam o paramilitarismo, multinacionais que são, por sua vez, representadas por altos funcionários estatais, com comandantes militares manchados pelo narcotráfico e com parlamentares que ao mesmo tempo que aprovam novas leis, ordenam novos massacres, não deve haver dúvida de como até que ponto o paramilitarismo é uma ferramenta do terrorismo de Estado aplicado por esta oligarquia para paralisar o protesto social, destruir organizações populares para eles continuarem enriquecendo, em detrimento do país e do povo.

A lista de multinacionais que apoiam o terrorismo de Estado na Colômbia, é muito grande e entre elas destacam-se Chiquita, Coca-cola, Nestlé, Drumon, British Petroleum, Oxi, Repsol, etc,

O paramilitarismo e Alvaro Uribe Velez, são sinónimo de morte. É preciso recordar que entre 1995 e 1997, quando Uribe foi governador de Antioquia, se desencadeou a mais feroz arremetida contra a União Patriótica exterminando este movimento em Urabá e implantando o “Estado Comunitário”, hoje conhecido como “Segurança Democrática”, projecto de Pax romana que se pretende aplicar em todo o país, no qual a participação das multinacionais, financiando a guerra contra o povo, constitui um elo fundamental.

Os dados reflectem um panorama desolador de desaparecimentos, assassinatos a sangue frio que, apenas no primeiro mandato de Uribe, chegaram aos onze mil casos, uns 62 mil exilados e cerca de quatro milhões de deslocados internos, que são o produto do intento de aplicar em todo o país, o que Uribe fez em Urabá.


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    domingo, 5 de agosto de 2007

    Os acertos no Fernando Fonseca com os Mellos

    Tribunal de Contas iliba responsáveis da ARS

    O Tribunal de Contas absolveu os responsáveis da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARS-LVT) no caso do acerto de contas do Hospital Fernando Fonseca com o grupo Mello. O processo arrasta-se desde 2001 e estava em causa a responsabilidade dos administradores no pagamento indevido de cerca de 70 milhões de euros ao grupo Mello.


    O caso foi despoletado em 2001 por Manuela Lima, então presidenta da ARS-LVT. Questionou pela primeira vez os pagamentos efectuados bem como a interpretação do contrato feita pelos seus antecessores. Na sequência desta interpelação, uma acção da Inspecção-Geral das Finanças detectou 79 milhões de euros pagos indevidamente pela ARS ao grupo Mello.
    Pelos factos apurados, o Ministério Público deduziu acusação contra 26 ex-responsáveis da ARS-LVT, excluindo apenas as ex-ministras da Saúde Maria de Belém Roseira e Manuela Arcanjo e os ex-ministros das Finanças Sousa Franco e Pina Moura, que ocuparam as pastas entre 1995 e 2001. Exigiu-lhes indemnizações no montante dos pagamentos indevidos.
    Constantino Sakellarides, ex-director-geral de Saúde e ex-presidente da ARS-LVT, considerou em 2003 que a acção inspectiva das Finanças era «um aborto completo de investigação em termos de gestão», segundo noticiou o «Público». Alegou que o problema do Hospital Fernando Fonseca estava no contrato de cedência de gestão a uma entidade privada, que foi «feito à pressa, por razões políticas», pelo último governo de Cavaco Silva.
    Mas foi o Governo de Durão Barroso quem enviou, em 2002, o relatório da Inspecção Geral de Finanças para a Procuradoria Geral da República e para o Tribunal de Contas. Todavia, o Ministério da Saúde e o grupo Mello conduziram o processo para o Tribunal Arbitral, uma instância controversa, onde o Estado contestou pagamentos de 75 milhões de euros e os privados exigiram o pagamento de 60 milhões de euros. Todavia, a decisão acomodou-se ao interesse dos privados.
    Bernardino Soares, numa declaração produzida em Novembro de 2006, na Assembleia da República, afirmou que «o Tribunal Arbitral foi sempre a tábua de salvação deste negócio», em que as partes «abdicaram, convenientemente, do direito de recorrer da decisão». E acusou todos os responsáveis políticos por nunca terem querido saber das conclusões da ARS presidida por Manuela Lima. «Só quiseram, sempre, saber das conclusões do dito — e sem legitimação legal — Tribunal Arbitral. E, assim, se beneficiou o Grupo Mello em 113 milhões de euros!»
    O deputado comunista acusou os governos PSD e PS de nunca terem tido intenção de fiscalizar o contrato de concessão do Hospital Fernando Fonseca. Montou-se, deliberadamente, «um sistema de acompanhamento ineficaz e inexistente, aceitando-se todas as imposições do Grupo Mello, sem discutir».
    Salvador de Melo, presidente da José de Mello Saúde, após ser conhecida a decisão do Tribunal Arbitral que favoreceu o grupo, declarou a sua satisfação com a decisão, a qual «é um bom prenúncio para as parcerias público privadas».
    Acrescentou que a «decisão dá-nos ânimo para avançarmos com a nossa candidatura a todos os dez novos hospitais públicos que vão ter gestão privada.»
    Depois de uma primeira decisão que absolveu a negligência de que iam acusados os responsáveis da ARS, o Tribunal de Contas ilibou agora todos os gestores. A auditoria do tribunal concluiu em 2005 que o Estado pagou indevidamente ao grupo Mello 70 milhões de euros, por cuidados de saúde nunca realizados, facturados em duplicado ou não previstos no contrato.
    O Tribunal de Contas alega que o Ministério Público «desvalorizou a auditoria» e imputou responsabilidades de umas equipas a outras. De acordo com o «Diário Digital», a sentença considera que o Ministério Público «contraria o apurado em auditoria» e responsabiliza todas as equipas pela actualização anual de pagamentos, em vez de desagregar estas verbas. Assim como considerou solidárias, responsabilidades que são individuais.
    Proposta ganhadora

    Animado pelas decisões alcançadas no final de 2006, o grupo Mello teve novas satisfações no início de 2007, quando o ministro da Saúde, Correia de Campos, anunciou que não renovaria o contrato de gestão do Hospital Amadora-Sintra e que lançaria novo concurso público em 2008.
    A intenção do Ministério da Saúde é conceder à mesma entidade a gestão do Hospital Fernando Fonseca e a gestão do novo hospital de Sintra. Como existe já um parecer emitido pelo Procurador-Geral da República, esta metodologia torna-se indispensável.
    Em declarações ao «Correio da Manhã», em Janeiro deste ano, Rui Raposo, presidente da Sociedade Gestora do Hospital Fernando Fonseca, afirmou que o grupo Mello viu a decisão do ministro como «uma medida muito positiva». Disse que defendem há oito anos a criação de «uma nova unidade de saúde em articulação com a nossa», o Hospital Fernando Fonseca.
    O responsável do grupo Mello acrescentou que «iremos apresentar uma proposta ganhadora, porque conhecemos as necessidades da população». Em Fevereiro deste ano, a Câmara Municipal da Amadora, presidida pelo PS, e a Câmara Municipal de Sintra, presidida pelo PSD, tornaram-se accionistas do Grupo Mello Saúde.
    A CDU da Amadora considerou que a decisão autárquica constitui um «duplo erro», por acomodação a «um modelo errado de gestão» e por «favorecimento indevido a um concorrente em detrimento de outros».

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    Pequeno Manual Crítico duma Venezuela vilipendiada

    As manipulações mediáticas visando desacreditar a Revolução Bolivariana intensificam-se ao mesmo ritmo da sua orientação rumo ao Socialismo. A reacção às mentiras e a sua clarificação precisam de muito mais tempo que a produção da própria mentira, à qual, depois de desmontada, se seguem novas vagas de calúnias. Decidimos, assim, compilar as matrizes de opinião negativa mais comuns e às quais responderemos de forma curta.

    AUTORIDADE NEM SEMPRE É AUTORITARISMO

    1°) A Constituição da República Bolivariana da Venezuela é a Constituição de Chávez. Se o presidente Chávez durante a sua estadia na prisão nos anos 90 escreveu certas ideias quanto à nova constituição, o esforço de construção colectiva da nova carta suprema é um exemplo de democracia participativa e representativa. Assim que foi eleito o presidente convocou, como o prometera durante a campanha, um referendo para perguntar aos venezuelanos se estavam de acordo em mudar a Constituição e convocar uma Assembleia Constituinte. O resultado exprimiu por si próprio a necessidade de mudança: por 90% a convocação da Assembleia Constituinte foi aprovada. Iniciou-se então um processo de reflexão colectiva. Através de assembleias populares e de comissões de bairro, o Povo elaborou propostas para a constituição da Constituição. Houve depois eleições para eleger os representantes da Assembleia Constituinte e que foram o espelho da realidade política do momento. Contavam-se entre os representantes partidários e aliados de Chávez (muitos deles mais tarde acabariam por traí-lo), mas também adversários políticos. Pensar que esta constituição é obra de Hugo Chávez, escrevendo-a sozinho noite e dia, é negar a organização do debate democrático que houve à volta dela. Após alguns meses de trabalho, inspirando-se no projecto de Chávez, mas integrando elementos dos cidadãos e do debate resultante das diferenças políticas no seio da Assembleia Constituinte, os deputados apresentaram o projecto final à aprovação dos venezuelanos por um segundo referendo popular. Em 15 de Dezembro de 1999 a nova Carta Suprema foi ratificada por 71,19% dos venezuelanos. Como qualquer outra Constituição, é a base sobre a qual se levantará uma nova República, a República Socialista conforme entender construí-la o Povo venezuelano.

    2°) Chávez decide mudar a constituição para se tornar presidente vitalício. O Artigo 230 da Constituição da República Bolivariana da Venezuela limita a dois a número de mandatos presidenciais. Após a sua reeleição em 3 de Dezembro de 2006, Hugo Chávez nomeou uma comissão encarregada de reformar a Constituição. Se o conteúdo das reformas está ainda por conhecer, sabe-se já que deverá incluir uma modificação do artigo 230, de forma a permitir que o Povo venezuelano seja o único a decidir sobre o fim do mandato presidencial, como é o caso em numerosas democracias. O trabalho final da comissão pela Reforma da Constituição será apresentado à Assembleia Nacional que deverá avaliá-la por um voto superior a 2/3 dos seus membros (artigo 343 da Constituição). O projecto, assim confirmado pelos eleitos do Povo será finalmente submetido a um referendo popular, tal como o prevê o artigo 344 da Constituição. O resultado desse referendo confirmará definitivamente o tipo da reforma constitucional. A acusação de que Chávez modelou a Constituição de forma a ser presidente vitalício não tem fundamento. Tanto mais que o artigo 72 dessa mesma Constituição abre a possibilidade de convocar, a meio mandato, um referendo revocatório contra o Presidente. No fim de contas, se Hugo Chávez ficar como Presidente da República até ao fim dos seus dias será tão somente por o Povo o decidir e por o próprio Presidente consentir em submeter-se a essa vontade popular.

    3°) Com a lei Habilitante, Chávez obteve poderes plenos. A Constituição da Venezuela afirma existirem cinco poderes independentes uns dos outros: executivo, legislativo, judicial, eleitoral e cidadão. A lei Habilitante votada pelo poder legislativo dá ao presidente Chávez o poder de legislar sobre assuntos definidos pela Assembleia Nacional por um período, também ele definido pela Assembleia Nacional, de 18 meses. Os decretos-lei emitidos durante esse período têm que respeitar a Constituição. O trabalho do presidente Chávez durante esses 18 meses não poderá em nenhum caso opôr-se aos trabalhos em curso nos quatro outros poderes. Assim, não só Hugo Chávez não poderá gozar de plenos poderes, como as acusações duma suposta deriva ditatorial são completamente infundadas. Com efeito, a história recente da Venezuela demonstra o contrário. Em 2001, Hugo Chávez beneficiara já duma lei Habilitante que usara para promulgar 49 decretos-lei (entre eles sobre a Reforma Agrária, as Pescas e os Hidrocarbonetos) que formaram o fundamento progressista do governo. Além disso, a última palavra sobre os decretos emitidos durante os 18 meses de lei Habilitante pertence aos cidadãos venezuelanos. Estes podem, como o prevê a Constituição no seu artigo 74, convocar um referendo (se reunirem 10% do corpo eleitoral) para revogar total ou parcialmente qualquer lei do país. O sistema de leis Habilitantes não é próprio da Venezuela. Encontram-se tais mecanismos jurídicos nos Estados Unidos, no Canadá ou até mesmo na França com o artigo 49 §3, com a diferença que nestes países não se goza de nenhuma contrapartida imposta pelo poder legislativo ou pelos cidadãos como na Venezuela.

    4°) Hugo Chávez pretende impor um sistema de Partido Único na Venezuela. Às eleições parlamentares de 4 de Dezembro de 2005 não menos de 450 organizações e partidos políticos (de nível nacional, regional e local) apresentaram candidatos (só seis partidos da oposição decidiram boicotar as eleições). À eleição presidencial de 3 de Dezembro de 2006, 78 partidos políticos decidiram apoiar um dos 20 candidatos. Da totalidade dos partidos políticos, só 24 apoiavam os presidente Chávez. Foi a esses partidos e organizações que o apoiam que Hugo Chávez convidou a unirem-se num grande partido da Revolução Socialista. Após a construção deste último restariam dezenas de Partidos Políticos da oposição à escala nacional e centenas à escala regional e local. A democracia multipartidária venezuelana não seria em nada afectada pela estratégia do movimento socialista. Estratégia que nem sequer é própria da Venezuela nem do Socialismo. A União por um Movimento Popular (UMP), o grande partido da direita francesa, construiu-se segundo a mesma ideia de união. Esta iniciativa tem, entre outros, o objectivo de lutar contra as tendências clientelistas no seio do movimento revolucionário. Com efeito, certos partidos que não representam nada a nível nacional têm o mau costume político de usar seu pequeno capital eleitoral para obter postos importantes na função pública e nos ministérios. Prática que não poderá ter mais lugar com a criação do novo partido de união. Ademais, a criação do Partido Socialista Unido dá-se para tornar a dar um sentido à noção de partido político na construção do Socialismo. Num país onde os partidos políticos estão mais que desacreditados, não sendo mais que simples máquinas eleitorais, o desafio está à medida da singularidade histórica do Partido Socialista Unido da Venezuela. Não há verdadeira liberdade sem limites, os do bem comum e do interesse colectivo.

    5°) Chávez e o governo bolivariano tentam eliminar a liberdade de expressão. Frequentemente confunde-se a liberdade de expressão com a liberdade permitida aos grandes grupos mediáticos de impor a sua visão capitalista, mercantil, sexista e racista da comunicação e informação à grande maioria que é o conjunto dos cidadãos que são telespectadores, leitores ou ouvintes. A liberdade de expressão está consagrada no artigo 57 da Constituição bolivariana. Afirma este que "qualquer pessoa tem o direito de exprimir livremente os seus pensamentos, ideias ou opiniões de viva voz, por escrito, ou através de qualquer forma de expressão". A liberdade de associação (artigo 52 da Constituição), a liberdade de se reunir em locais públicos (artigo 53) e a liberdade de comunicação (artigo 58) reforçam esta liberdade fundamental. Neste sentido existe mais liberdade de expressão que em qualquer outro dos países democráticos. Com efeito, a oposição minoritária pode tranquilamente manifestar o seu repúdio pelo governo e os seus porta-vozes são sistematicamente revezados pelos meios de comunicação comerciais que se transformaram em verdadeiros actores políticos e representam uns 70% do espectro mediático venezuelano (TV, rádio, imprensa escrita). O governo não tem nenhum controlo sobre a difusão na Internet e é costume encontrar nela apelos à violência, à insubordinação, ou até mesmo à guerrilha urbana emitidos por grupos radicais da oposição. Apesar da participação activa dos meios de comunicação comerciais no Golpe de Estado de Abril de 2002 e na sabotagem económica de Dezembro de 2002 - Fevereiro de 2003, que se saldou por uma perca de 15 mil milhões de dólares em termos de produção nacional, nenhum destes meios foi encerrado ou censurado pelo governo bolivariano. Em Dezembro de 2004 foi votada a lei sobre a Responsabilidade Social da Rádio e da Televisão (lei RESORTE) com o fim de instaurar um sistema de regulamentos legais no país. Esta lei é semelhante – se bem que menos estrita – às leis que regem o CSA francês ou o FCC americano. Apesar da sua flexibilidade a grande maioria dos meios de comunicação venezuelanos continua a violá-la impunemente. A liberdade de expressão foi encorajada pelo governo bolivariano ao promover a criação de centenas de meios de comunicação comunitários através dos quais os habitantes dum bairro possam fazer ouvir as suas vozes, os seus pontos de vista, e participar na discussão sobre as coisas públicas. Pilares importantes da reflexão comum e muito frequentemente crítica da burocracia do Estado, estes milhares de vozes que se exprimem nos meios de comunicação comunitários eram sistematicamente esquecidos pelos grandes patrões da imprensa. Também foi o governo bolivariano um dos principais promotores da cadeia de televisão internacional Telesur , cujo objectivo é permitir à grande maioria dos latino-americanos poder exprimir a sua realidade social. Realidade social da qual nunca fizeram eco os grandes grupos mediáticos. Enfim, o não renovamento da concessão hertziana à cadeia RCTV vai permitir à maioria decidir sobre a linha editorial e a qualidade dos programas que vai difundir a nova cadeia de serviço público. E assim romper com a sujeição da liberdade de expressão ao capital financeiro de uma mão cheia de poderosos. Em 2002 o escritor venezuelano Roberto Hernandez Montoya escreveu: "Os patrões dos meios de comunicação na Venezuela têm tanto poder que nem fazem ideia que esse poder tem limites". Querendo garantir uma democracia integral, o governo bolivariano deu assim uma parte desse poder mediático ao Povo.

    6°) Chávez leva a cabo uma campanha de nacionalizações selvagens e ameaça a propriedade privada. A propriedade privada é garantida pelo artigo 115 da Constituição Bolivariana. Em nenhuma altura no seio do governo se pensou em pôr em causa esse princípio. Fiador e promotor do interesse colectivo, os poderes públicos devem no entanto impor um conjunto de prioridades ao exercício das liberdades individuais em função de bem comum. A função social da propriedade permite submeter as obrigações mercantis e comerciais às exigências humanistas e de dignidade das pessoas. É claramente uma escolha soberana a de decidir dar mais importância às pessoas que aos bens, é a escolha que tomou numerosas vezes a população da Venezuela pela via das urnas. Uma reforma da constituição prepara a inserção de 5 estatutos sobre a propriedade privada que tratam dos diferentes aspectos de que ela se pode reverter. Sem ser um fim em si, a propriedade privada deve continuar a ser um meio do desabrochar humano e de progresso colectivo. As confiscações, os arrestos, as redistribuições de bens não valorizados (terras, oficinas, alimentos, açougues) correspondem a um procedimento legislativo inscrito na Lei de expropriação por causa de utilidade pública ou social que rege a obrigação de garantir à população o respeito pelos seus direitos fundamentais (trabalho, habitação, alimentação) sem que estes possam ser subordinados aos princípios invioláveis da propriedade. Não é tanto o estatuto de propriedade que incomoda, mas mais a hipoteca do desenvolvimento social. Uma grande propriedade que participa no desenvolvimento nacional, que permite a inclusão, que produz e respeita os trabalhadores tem todo o seu lugar na Venezuela. Prova disso são os numerosos ciclos económicos bilaterais organizados pela Venezuela com empreendedores dum país estrangeiro em Caracas e a recente conferência sobre o lugar que podem ocupar os empreendedores nacionais num país onde o Estado os tinha antes debaixo da asa e que têm agora que prestar serviços ao conjunto da nação.

    7°) Chávez e o governo bolivariano vão fechar arbitrariamente a mais velha cadeia de televisão venezuelana (RCTV). Em 1987 o governo do presidente de então Jaime Lusinchi (do partido Acción Democrática) decide regulamentar o sistema de obtenção de concessões hertzianas para as televisões e rádios nacionais. O novo regulamento apareceu no jornal oficial nº 33726 de 27 de Maio de 1987 e estipula no seu artigo 1: "As concessões para a transmissão e exploração de cadeias de televisão e frequências de rádio são dadas para um período de 20 anos" e precisa no seu artigo 4: "As concessões que tenham sido dadas antes da data do presente decreto serão consideradas válidas nos termos estabelecidos no artigo 1". Como se vê os 20 anos acabaram. A concessão dada à cadeia RCTV pelo Estado teve fim em 27 de Maio último. O governo venezuelano não suprime nenhuma licença nem encerra nenhuma cadeia de televisão, exerce muito simplesmente o poder de não renovar a concessão conforme estabelecido pela Lei. O controlo do uso de frequências hertzianas pelo Estado não é próprio da Venezuela. Em França os artigos 21 e 22 da lei 86-1067 relativo à liberdade de comunicação afirmam claramente o poder do Estado nesse domínio. Não há portanto nenhum encerramento arbitrário de cadeia de televisão. O senhorio decide apenas mudar de inquilino, e nada impede a RCTV de continuar a emitir por cabo. Esta decisão foi nomeadamente motivada pelas múltiplas infracções à lei de Responsabilidade Social da Rádio e da Televisão (lei RESORTE) assim como pela participação activa da RCTV no golpe de Estado de Abril de 2002 e na sabotagem económica de Dezembro de 2002 – Fevereiro de 2003, que se saldou por uma perca de 15 mil milhões de dólares do PIB. O espaço deixado vazio pela RCTV foi preenchido desde 28 de Maio de 2007 por uma cadeia de serviço público onde os programas estão a cargo de Produtores Nacionais Independentes e duma rede nacional de televisões comunitárias, numa palavra, pelas mãos do Povo criador e imaginativo. O nome desta nova cadeia diz bem: TVes, jogo de palavras com "te ves" que significa "vês-te". VENEZUELA 2000, UMA NOVA CUBA DOS ANOS 1950? DROGAS, TRÁFICO E CORRUPÇÃO.

    8°) Segundo Transparency International a Venezuela é o país mais corrupto do continente Americano, mais que o Haiti. Assim, a Venezuela é o país mais corrupto do mundo. A corrupção é o legado infame de 40 anos de políticas capitalistas clientelistas que herdou o governo bolivariano ao chegar ao poder. Face escondida duma burocracia de Estado ainda pesada, a corrupção invadiu as consciências, a tal ponto que um homem político que a ela não recorresse era tido por idiota. O presidente Chávez reconhecendo que a corrupção é um vício gravíssimo que será difícil erradicar a curto prazo iniciou uma luta de morte contra esse flagelo. A criação de conselhos comunitários e a nova geometria do poder estão na base duma apropriação directa pelo Povo dos meios financeiros que lhe estão destinados, sem passar pelo crivo redutor de funcionários corruptos. Se a corrupção ainda persiste na Venezuela, será a situação tão catastrófica como faz crer a O(N)G Transparency International? A organização Transparency International, bem longe de ser uma ONG independente, é financiada por numerosas multinacionais (entre as quais ExxonMobil, directamente interessada na Venezuela) assim como por diversas agências governamentais incluindo paraventos da CIA como a Fundação Ford, A Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID) ou o Centro Internacional do Empreendimento Privado (CIPE), tendo estado estas duas últimas implicadas no golpe de Estado de Abril de 2002 assim como em todas as tentativas de destabilização do governo bolivariano. Além disso Transparency International limita as suas investigações ao sector público, o que penaliza os países onde o Estado tem um papel regulador ou de obstáculo ao liberalismo mais feroz. Também, um dos critérios maiores usado por Transparency International para determinar o nível de corrupção é a percepção que os próprios cidadãos têm da corrupção no seu país. Imagina-se facilmente como um inquérito desse tipo nos sectores tomados pela oposição e intoxicados pela propaganda dos meios de comunicação comerciais pode falsear a realidade da corrupção na Venezuela. Tanto as ligações financeiras da Transparency International como os seus métodos de investigação obrigam-nos a distanciar-nos do resultado alarmista que parece mais uma arma suja contra a Venezuela que um estudo objectivo e transparente.

    9°) Existem centenas de prisioneiros políticos no país. Não existe nenhum cidadão encarcerado por motivos políticos ou delitos de opinião. Ninguém foi inculpado pela organização do golpe de Estado de Abril de 2002. Lembremo-nos de passagem que os generais responsáveis pelo putsch de Argel em Abril de 1961 foram encarcerados e Bastien-Thierry, organizador do atentado de Petit Clamart, foi fuzilado. No entanto um certo número de pessoas na Venezuela foram julgadas e condenadas ou postas a exame em casos de morte de cidadãos venezuelanos como durante o golpe de Estado de 11 de Abril de 2002 ou como no caso do assassínio do procurador Danilo Anderson. Se há figuras políticas encarceradas é por prevaricação financeira ou delitos de direito comum. Mas um político prisioneiro não é o mesmo que um prisioneiro político. Uma calçada no jardim do Império

    10°) O governo bolivariano adopta um comportamento imperialista ao comprar títulos do tesouro argentino ou praticando a diplomacia do petróleo nas Caraíbas. Ao fazê-lo, malbarata o orçamento nacional no exterior em lugar de investir nos problemas dos venezuelanos. Às vezes é difícil admitir que possa haver aqui outras trocas e outras discussões que as baseadas no interesse social e solidariedade. Talvez a maioria veja aí um discurso hipócrita que permite usar habilmente a arma diplomática que é o petróleo. Isso seria passar além da visão bolivariana da integração latino-americana. Advêm daqui uma série de acordos não tanto condicionados aos termos comuns de troca comercial quanto às esperanças e aos gestos humanitários que unem cada vez mais Estados e povos. A abertura energética para com os países das Caraíbas permite a "micro-Estados" libertarem-se sensivelmente da dependência perniciosa da ajuda norte-americana e das refinarias estrangeiras. As contrapartidas que exige a Venezuela dizem respeito às pessoas, aos aspectos sociais do desenvolvimento nacional mais que ao respeito pelos procedimentos de rigor económico ou de redução dos défices públicos a todo o custo. Estas últimas exigências condicionavam a ajuda do "Norte" no quadro do Consenso de Washington. O acordo Petrocaribe que rege esta aliança energética é bem claro. Não se trata de uma doação mas de condições especiais de administração do petróleo. O pagamento definido para 25 anos deverá fazer-se uma parte em divisas, a outra em serviços (medicamentos, carne, sementes, etc). A acusação de esbanjamento por parte da oposição não é senão hipócrita. Após ter usado a sua influência no seio duma OPEP descomposta no princípio dos anos 2000, a Venezuela conseguiu estabilizar, em acordo com os seus parceiros, os preços do petróleo bruto em alta. Além disso, em 2005, a companhia CITGO (propriedade da PDVSA nos Estados Unidos) trouxe pela primeira vez na sua história benefícios ao país. A maior parte deste imenso excedente financeiro, que os membros da oposição desbarataram enquanto no poder, é investido na Venezuela em programas sociais. A Venezuela compra títulos do tesouro argentino e com isso consegue um meio de suspender a dependência argentina dos credores do Norte, de escoar uma grande parte da sua liquidez para lutar contra a inflação, e de reatar os laços com uma Argentina que lhe fornece inúmeros bens manufacturados que lhe são recusados pelos Estados Unidos. Enfim, esses títulos são portadores de remuneração a prazo, e são a ocasião de consolidar um sistema financeiro que permita conservar os capitais no "Sul" de maneira que as mais-valias da manipulação de fundos cessem de ser sistematicamente retidas no Norte. É este o argumento da constituição do "Banco do Sul", ao qual ninguém na América Latina é obrigado a aderir, mas cujo projecto tem tido um grande sucesso nas economias nacionais estruturalmente e financeiramente dependentes do Norte.

    11°) A Venezuela é o país mais perigoso do continente (violência/delinquência + armada) Houve-se frequentemente o Departamento de Estado referir-se à "corrida aos armamentos" imposta pela Venezuela na "região" latino-americana em risco de ser destabilizada por um Estado quase vadio. Em termos de orçamento de armamento a Venezuela está atrás de Brasil, Argentina, Chile, Colômbia (reforçado mais ainda pela ajuda militar norte-americana no quadro do Plano Colômbia) e México. O armamento da Venezuela revela uma renovação do seu arsenal ligeiro e da sua frota de aviões de caça cujas peças sobressalentes lhe foram recusadas pelos Estados Unidos. Os mesmos Estados Unidos oferecem menos resistência em armar a Colômbia com carros de assalto cuja pertinência para lutar contra uma guerrilha entrincheirada o mais das vezes em montanhas de forte declive se percebe mal. A menos que não seja mais que uma maneira de evitar pôr na rua os trabalhadores de Cleveland e Detroit. Depois de passar da defesa nacional à segurança nacional e ao estabelecimento de regimes autoritários, a segurança interior anima muitos receios. Se os "teatros de operação" – lugares remotos de isolamento e de desvelos policiais –, os desaparecimentos, torturas e outros massacres praticados ao longo de toda a IV República Venezuelana desapareceram, a insegurança e a violência continuam no entanto parâmetros alarmantes. Acompanhando o armamento de redes de narcotráfico, semelhante a fenómenos que se dão por exemplo no Rio de Janeiro, acompanhando os registos de violência no Recife e alcançando o pico em termos homicídios em Caracas em meados dos anos 1990, a violência na Venezuela é um mal que mina a nação e estigmatiza a desunião e a desarticulação das estruturas sociais do país em várias escalas. A depuração dos corpos de segurança, a luta determinada da justiça e o restabelecimento de oportunidades iguais para todos são um esforço nacional. Se a Venezuela é um país perigoso, é-o para o governo norte-americano, pela sua mensagem de esperança e transformação social que promete à América Latina e ao Mundo.

    12°) A Venezuela é um centro potencial de actividade terrorista na América Latina. A integridade territorial da Venezuela e a protecção dos recursos do sub-solo, particularmente cobiçados neste princípio de século belicoso, são garantidas por um exército bem menos notável que o da maioria dos seus vizinhos, e sem qualquer possibilidade de se "projectar" agressivamente para além das suas fronteiras. A luta contra o narco-tráfico e o terrorismo internacional está na origem dum desentendimento dos Estados Unidos com o Brasil sobre a instalação duma base militar na Amazónia remota, reservatório de biodiversidade. Há alguns meses foi instalada uma base no Chaco Paraguaiano, a dois passos da segunda reserva de gás do continente (na Bolívia), mas sobretudo, assim foi dito, para vigiar actividades terroristas na tripla fronteira – Paraguai, Brasil, Argentina. Tripla fronteira que, além do seu interesse geopolítico, se reveste dum interesse geoestratégico notório: corresponde ao maior aquífero do planeta, o Guarani. Ouve-se de diversas fontes comentários sobre os centros de terrorismo na Venezuela conforme definidos pelos Estados Unidos (islamismo, campos de treino iranianos, ETA, bases da Al Qaeda!!!). Não é tudo isto mais que uma mentira orquestrada que pretende justificar uma intervenção estrangeira. Não tem de acreditar numa mentira senão quem precisa dum pretexto. Depois de 2000 e do encerramento da sinistra "Escola das Americas" no Panamá, onde se formaram os mais famosos ditadores do continente, os Estados Unidos instalaram oito novas bases na região que se somam às sete já existentes, totalizando vários milhares de soldados estacionados numa região que assegura 40% do consumo de petróleo da federação norte-americana. CASSANDRAS

    13°) A Revolução Bolivariana sem petróleo afundar-se-á por si própria. Antes de especular sobre a economia pós-petrolífera venezuelana, é bom lembrar que, com o sub-solo da Faixa do Orenoco, a Venezuela possuiria as reservas petrolíferas mais importantes do mundo, à frente dos países do Médio Oriente. Além disso a Venezuela dispõe das primeiras reservas de gás da América Latina, ainda sub-exploradas. O país é também rico em alumínio e ouro. As indústrias de base venezuelanas têm belos dias diante de si, ainda que o petróleo se venha a tornar raro. O governo bolivariano lançou uma grande campanha para diversificar a economia. Tradicionalmente a Venezuela era um país importador. As receitas do petróleo asseguravam a compra de diversos produtos manufacturados, agrícolas, etc. Para não depender das importações, o governo relançou a produção agrícola, nomeadamente no seio de cooperativas agrícolas. O desenvolvimento endógeno, pilar da economia bolivariana, pretende reduzir as importações de produtos manufacturados. Note-se também na Venezuela o desenvolvimento sem precedentes da petroquímica que faz medrar o aparelho produtivo da indústria petrolífera. Para lutar contra o flagelo da dependência das importações, o executivo promulgou o decreto presidencial 3898 que obriga todas as indústrias de base (públicas ou privadas) a fornecer em primeiro lugar as empresas de transformação nacional e a exportar só o excedente. As aberrações que eram a importação massiva de T-shirt de poliamida ou de tachos de alumínio e a sua venda a preços elevados não terão mais lugar. O tecido produtivo da Venezuela foi reforçado pela criação de dezenas de milhares de cooperativas e empresas de produção social que, na grande maioria, estão situadas fora da economia do petróleo e não estão ligadas à indústria de base. Enfim, o crescimento da tributação fez dessa entidade a principal entrada no orçamento de Estado, e só depois o petróleo, enquanto que a primeira representava só 22% quando da instalação do Presidente Chávez no poder.

    por Romain Migus e Albert Mondovi
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    sábado, 4 de agosto de 2007

    A rota da grande dissidente

    Foi dado à estampa um livro da autoria da actual vice-presidente do Grupo parlamentar do PSD, Zita Seabra, cujo título, «Foi Assim», (O «F» carcomido dá a ideia de uma foice destruída…), sobressai a vermelho numa capa impressa com o jornal Avante! esbatido. No topo, a autora, proprietária da editora da sua obra, aparece numa fotografia, com o ar aguerrido da juventude, de punho erguido, e uma auréola com a foice e o martelo. Uma capa enganadora, como aliás toda a sua personagem, que se vai retratar num livro de recordações ao sabor de intenções inconfessadas, cujo percurso acaba em 1989, quando se fina a sua identidade comunista e começa outra, antagónica da primeira.

    Se o galo eriça as penas, é mais fácil depená-lo.
    (Provérbio tibetano)

    O lançamento da obra decorreu, com um evidente simbolismo, no Quartel do Carmo, com a presença de importantes personalidades, entre outras, Mário Soares e Maria Barroso, J. Pacheco Pereira, Carlos Gaspar, Marques Mendes, César das Neves, Vasco G. Moura, Bagão Félix e Santana Lopes. Teceram-se os maiores encómios à obra (Público, 6 de Julho). Que é um livro de uma verdade absoluta e transparente, diz Mário Soares. Que nas memórias da amiga «não há uma gota de culpa», diz Pacheco Pereira, em relação à «instituição», para não soletrar «PCP». Gaspar, pelo seu lado, fala que «a menina romântica com péssimas leituras»( Marx, Lenine, Engels e outros autores subversivos, proibidos pelo fascismo?) conta no livro «a história de uma ruptura, tanto mais dura e brutal, por ser solitária», destacando «a coragem como fio condutor da obra».
    E ela, Zita, rodeada de ilustres, com os pés enfiados nuns bonitos sapatos vermelhos, relíquia colorida da anterior encarnação, agradece a todos e apenas lamenta, em patético acto de contrição, o sofrimento que deu aos seus pais, desventura do seu inconsequente roteiro comunista. Regressada à classe burguesa de origem, convertida em professa anticomunista, está à vontade entre os seus.
    Por sua vez, Vasco Pulido Valente, o conselheiro redactorial e revisor de provas, presente espiritualmente, oferece na contracapa, «à sempre cândida» Zita Seabra, o seguinte laudo lapidar: «É o livro que faltava para perceber a grande tragédia do comunismo português».
    Dizemos nós, em contraponto, desde já: a afronta odiosa que «Foi Assim» transporta contra o Partido Comunista, é de tal monta que os antigos inquilinos do Carmo, depostos no 25 de Abril, teriam gostado muitíssimo, se ainda cá estivessem, de marcar o evento com a sua presença!
    O mínimo que se poderá dizer de Zita Seabra é que é uma personalidade contraditória. Onde está a verdade da pessoa, o seu valor real, cara ou coroa? No período de 22 anos em que assume uma militância comunista, desde a adolescência sacrificada até aos 39 anos de idade, dirigente ainda do PCP? Ou na pessoa que vai nascer em 1989, e diz a si própria e aos outros, como uma revelação: «não sou comunista». A sua cotação real estará no valor facial ou no valor da troca, ao afirmar-se como anticomunista, como dirigente política de direita? «Foi assim» é, contra as aparências de um depoimento realista, um texto basicamente de ficção: a narradora conta o seu passado para o reinventar, desacreditando-o. É uma caricatura grotesca e anedótica da clandestinidade como clausura contrariada, a deturpação política intencional da vida partidária e do papel do PCP na Revolução de Abril, etc.. Filhas e genros, diz Zita nos «Agradecimentos», «foram ouvindo (estas) histórias e rindo delas»… Eis a seriedade postiça exibida num descuido. O maior erro na apreciação que se poderia fazer do livro de Zita é considerá-lo o testemunho objectivo da sua vida no Partido Comunista, ou o acto sincero de uma ajuste de contas com o passado, ou a narrativa factual de acontecimentos políticos em que participou, ou o ajuizar isento sobre pessoas com quem partilhou a militância comunista. Nada de mais falso. Logicamente, é o que tentam os seus amigos políticos, ao elogiar a peça e a personalidade…
    O sujeito narrador do texto aparece numa entremeada confusa de enunciados em que alterna o sintagma nominal «nós comunistas» com o verdadeiro «eu» da pessoa, o qual se distancia, contraria, deturpa e renega a anterior ideologia e fidelidade. A primeira personagem, a Zita que milita no Partido, objecto da novela, está morta há quase vinte anos; a segunda, a Zita do PSD, verdadeira narradora, está bem viva e activa, posicionada no jet set da classe política, utilizando o know how do seu passado de militante de esquerda para agir como militante da direita. A reconversão passa pela ideologia e pela orientação política, mas a técnica é transferível com adaptações. O maior mérito de um dissidente é continuar a valer longamente como dissidente: o valor real como valor da troca. Há uma carreira de dissidente a título póstumo, como troféu, como exemplo para outros, como sinal que visa enfraquecer o adversário. Os antigos inimigos que acolhem o dissidente exibem-no como o bom exemplo a seguir, o representante da sensatez, do que deve ser: a moralidade pedagógica do regresso de um filho pródigo, a ovelha tresmalhada que volta ao redil, a conversão de uma infiel.
    «Foi assim» é um texto de confronto político actualizado, um instrumento de propaganda contra o PCP e a ideologia comunista, um meio de alicerçar a sua carreira de militante da direita, de reforçar o seu prestígio no meio em que se situa. A autora age como inimiga do Partido, num posto ficcionalmente interior ao Partido, utilizando factos vividos e argumentos, num estilo que parece ser genuíno e natural, mas que é deliberadamente o do confronto politizado. Fim estratégico: desvalorizar, estigmatizar, ridicularizar e denegrir o PCP. Táctica: denunciar, expor pormenores, deturpar, caricaturar, montar cenários, desinformar, difamar, mentir. Principal ingrediente: a pessoa, a figura da arrependida, a pecadora que se confessa, servida por uma claque burguesa.
    A autora está consciente deste truque e tenta controlar a informação. Quando a jornalista Fernanda Câncio (DN, 8/07/07), que a critica por assumir no presente a luta contra causas que eram suas, como o aborto, lhe faz a última pergunta, («Nos agradecimentos do livro está um monsenhor, o mote é uma frase bíblica, apesar de se dizer ateia de formação. Descobriu Deus, entretanto?»), a resposta é espantosa: «Sobre a minha vida depois de 1989 não quero falar».
    Façamos a vontade a Zita Seabra. Vamos extrair conclusões da análise do processo que decorre em 1988 e culmina no seu afastamento do PCP.

    Revisitar o «processo de afastamento»
    de Zita Seabra do PCP

    O correspondente em Lisboa da revista americana Newsweek dá conta, numa edição dos começos de 1989, do «processo Zita Seabra», numa notícia intitulada «Portugal: reform may be impossible». Aí se fala do livro, «O Nome das Coisas» de ZS (1.ª edição, Novembro de 1988), como um best-seller onde é revelado o carácter grotesco do seu julgamento secreto e expulsão («The grotesqueries of her secret trial and expulsion»). A nossa fonte é o próprio livro de Zita, que inclui uma fotografia da página da revista. Serve este exemplo para dar expressão à ampla informação à roda da pessoa, promovida em campanha como a grande vítima de uma espécie de saneamento interno cuja causa, a mais injusta, seria ter Zita desejado renovar, democratizar, revitalizar e modernizar o PCP. Ironia do destino, afinal a personagem viria a ser, já em 1989, uma inimiga feroz não só do Partido, mas de toda e qualquer versão da ideologia comunista, à qual faz um voluntarioso certificado de óbito, legitimando, a posteriori, todos os procedimentos que levaram à sua exclusão do PCP.
    A frivolidade e o egocentrismo de ZS transparecem na sua inconstância de propósitos e inconsistência de argumentos. O leitor pode avaliar num relance o que aqui fica escrito. A propósito do trabalho na Comissão Política do CC do PCP onde é, diga-se, membro suplente, desde 1983, comenta com genuína franqueza: «Não conseguia continuar na Comissão Política, não me integrava nela e não queria lá estar (…), acumulava essa tensão com dúvidas seríssimas sobre a orientação do Partido, e o resultado foi que adoeci gravemente»(«Foi assim», p. 382). Esta referência merece um reparo pela ignorância crassa que revela na atribuição da etiologia da tuberculose à vida na Comissão Política… Mas esta mesma pessoa que estava farta e saturada, descontente, descrente, desmotivada, não considera a possibilidade de pura e simplesmente aceitar funções mais modestas e consentâneas. Por teimosia e espírito de contradição, sem verdadeira convicção, mas como reacção de orgulho diz: «Não cedi, eu era membro da direcção, da comissão política do Comité Central, tinha portanto direito de me bater pelas mudanças que achava necessárias no Partido» («Foi assim», p. 389).
    Todas estas discordâncias transpiravam nos órgãos de informação, em grande profusão, ainda antes da edição do livro «O nome das coisas». Faça-se justiça, ZS reconhece agora, no seu «Foi assim», que agia à revelia da direcção e dos estatutos do PCP. Diz: «Vital Moreira jantava todas as quartas-feiras em minha casa. Todas as semanas, passávamos em revista a vida política nacional e a vida partidária. Conspirávamos efectivamente em minha casa, mas não em segredo». Do mesmo teor é o seu depoimento na Grande Entrevista da RTP 1, a Judite de Sousa: «Estava em plena dissidência, jantava tudo lá em casa». Em casa da «grande líder divergente», dizemos nós. Acrescente-se, cujo secretário-geral provisório e guia espiritual passou a ser Vital Moreira, sem dúvida… E dizia à Zita, imagine-se: «És a nossa Passionária!»(p. 395). Será possível?!
    Depois de uma zanga com Álvaro Cunhal em que é criticada pelo seu nítido afastamento da linha e das normas estatutárias do PCP, ao ser confrontada com a sua mudança de gabinete (estava antes no 6.º andar na sede da Soeiro Pereira Gomes, em frente ao gabinete do Secretário Geral), reage com raiva incontida, que revela no livro: «Foi nesse dia que começou o meu processo. Para mim iniciou-se nesse dia uma dissidência com dois objectivos: democratizar o partido e mudar a sua linha política; acabar com PREC». Seria para reconquistar o gabinete do 6.º andar?! Diz depois Zita, para tirar dúvidas: «Continuava, porém, absolutamente fiel aos ideais, que tinha abraçado desde sempre, os ideais comunistas» («Foi Assim», p.388).
    O processo do afastamento de Zita Seabra do PCP decorre por etapas. Um primeiro procedimento em reunião plenária do Comité Central afasta-a da função de suplente da Comissão Política, em Abril de 1988. Zita Seabra, ainda membro do Comité Central, publica a sua defesa no «Nome das Coisas» ( Editorial Inquérito, 1988), num tom pateticamente revolucionário, como quem detém a chave da salvação, in extremis, do PCP: «É por confiar no Partido, nos seus militantes e na nossa ideologia que hoje aqui, no Comité Central, que analisa o caso “Zita Seabra”, eu quero dizer-vos, camaradas, que me seria bem mais penoso estar aqui, dentro de algum (pouco) tempo, a ser julgada por ter assistido passivamente ao declínio sem remédio do PCP».
    Vital Moreira, em eco, no livro «Reflexões sobre o PCP» ( Editorial Inquérito, 1990), faz a apologia emotiva da alegada vítima, põe as mãos no fogo pela sua nova pupila e afirma categórico: «Zita Seabra é a primeira vítima da luta pela renovação do Partido e pela superação da crise que, sem aquela, o conduzirá, a breve prazo, a um irreparável definhamento» (p. 60). O seu empenhamento político e jurídico na apologia de Zita foi de molde a transformar em «julgamento» um processo interno de um partido, indo ao extremo de considerar a acção da direcção do Partido como «character assassination», o que à vista do «carácter» revelado de ZS (traduta traditora), foi um erro crasso de diagnóstico do «advogado de defesa».
    Enquanto Vital Moreira pretendeu com grande vitalidade «revitalizar o PCP» para impedir o seu «definhamento», Zita pretendia «salvá-lo do declínio». Não fundaram, nem refundaram nenhum novo partido comunista ou de esquerda. Vital Moreira contenta-se com os bons ofícios no PS, usando a sua fastidiosa e cerrada teoria da argumentação para defender as mais impopulares reformas neoliberais do governo de Sócrates. Zita assumiu-se na sua verdadeira pele, a nudez branca da verdade, a pele na qual diz sentir-se muito bem, estereótipo que repete sempre, para confirmar que traja a rigor pela direita.
    Depois do afastamento da Comissão Política em Abril, ocorre em Novembro de 1988 o afastamento compulsivo do Comité Central (a sua expulsão do PCP, em Janeiro de 1989), justificado pela persistência nas mesmas acções anti-estatutárias e a publicação do livro «O Nome das Coisas», clara provocação («O livro era a guerra», diz ela em «Foi assim»), para obter a sanção como prémio por mau comportamento. A via da dissidência estava há muito em marcha, ninguém sabia ainda até que ponto. Todo o teatro sobre «violência», «perseguição», «punição», toda a campanha de difamação do Partido Comunista, visou capitalizar juros políticos para os adversários do PCP, à custa da pretensa ofendida.
    Meditemos, por um instante, na seguinte frase sobre uma desejada evolução no Partido, pouco antes da muda da pele:
    «Eu acreditei que é possível mudar, que é possível impedir a morte de um projecto colectivo e revolucionário de sociedade que foi e é o nosso sonho, tão grande que alguns lhe dedicámos não uma parte da vida, mas a “nossa vida”»( «Nome das Coisas» p. 45 ).
    Sabendo como todos sabemos do amplo apoio de que Zita beneficiou, do Grupo dos Seis, do INES, do José Milhazes, de Pacheco, de Soares e dos Media, espanta-nos sobremaneira a desfaçatez de ZS quando diz a Judite de Sousa no programa Grande Entrevista, com fingida autocomiseração: «Saí só, fiz o percurso só, nem terceira, nem quarta via, um percurso muito sentido, só».

    Não foi assim

    O capítulo número 7 do livro é sintomático. Zita Seabra esteve pouco mais de cinco anos na clandestinidade. Destes anos, quatro anos são exercidos no apoio a casas clandestinas, papel indispensável na luta política, que ZS considera uma limitação e uma humilhação para si. Na sua entrevista no DN, em grandes parangonas, figura o título: «Fui uma mulher-a-dias do PCP». A menina-bem foi obrigada a aprender as tarefas domésticas, que agora retrata com o despeito. Ela queria a função de «revolucionária profissional», a função de dirigir e organizar, de liderar, primeiro a partir do aparelho clandestino, depois à luz do dia, em 26 de Abril de 1974.
    Quando toma as rédeas da União de Estudantes Comunistas (UEC), em finais de 1972, põe em evidência o seu estilo muito próprio, como se sonda nas descrições: «Criei na UEC uma disciplina de exército...» (…) «Tinha uma enorme dureza face à hesitação, à dúvida ou ao medo» ( embora narre a sua experiência de horror quando lhe aparece um ratinho, não um PIDE, na cozinha da «casa do Partido» (p.122). (…) «Tinha a frieza de um revolucionário, era muito dura nas relações humanas (…) «Todos os militantes falavam de mim obrigatoriamente no “masculino”, era “o camarada”, para não se perceber que a “controleira” era mulher», explica ( p. 187 e 188). Todas estas descrições da auto-denominada «verdadeira bolchevique» soam muito a «comunismo de caserna», a uma caricatura pequeno-burguesa do que é uma verdadeira disciplina, sem tiques autoritários, manipulações e dirigismos. Diz da «sua» UEC que «passou a ser uma espécie de tropa de choque do PCP»… E fica muito contrariada quando a organização é dissolvida e integrada nas Juventudes Comunistas.
    Tive a oportunidade de privar mais de perto com ZS no Grupo Parlamentar do PCP, na primeira legislatura, entre 1976 e 1979. Muitos de nós a víamos como pessoa autoritária, super-protegida pelo presidente do Grupo Parlamentar, Carlos Brito, seu marido por muitos anos, pai das duas filhas, cuja existência como cônjuge é demasiado velada em «Foi assim». É o único dirigente do Partido que ZS elogia sistematicamente no livro, em toda a linha e em todos os parâmetros! Vá-se lá saber porquê, a sua progressão na carreira foi imparável, apesar do que muitos apontavam daquele estilo de fugir.
    A preocupação em exagerar o seu papel, em atribuir a si própria feitos que não lhe cabem, é outra característica que sobressai no capítulo sobre o movimento estudantil.
    A chefia da União de Estudantes Comunistas, após o 25 de Abril, gera-lhe a fantasia de que é uma grande personalidade: «Ali eu “era a Camarada”. Sabia que quando o diziam era eu.» Julga-se homologada a Álvaro Cunhal, «o Camarada», como uma espécie de grande guia da UEC, transvestida como o seu pequeno partido, numa liderança feita à pressa.
    Diz, às tantas, que na Cidade Universitária (de Lisboa) «não tínhamos militantes». E acrescenta: «Em Medicina, por exemplo, tínhamos um». Rematadas falsidades, disfarçadas por não mencionar o ano a que se reporta. Na Faculdade de Medicina havia uma célula da Organização Estudantil do PCP, anterior à fundação da UEC, em 1971. Aliás, é um militante do PCP da Faculdade de Medicina, em representação de outros, que estará presente na reunião de fundação da UEC, onde Zita não irá, com muito pesar seu, como afirma no livro. Noutro passo das suas divagações totalmente incorrectas e falseadas afirma: «Em pouco tempo refizemos muito da UEC de Lisboa e ganhámos, entre outras, as Associações de Estudantes de Medicina, de Letras e de Direito». Zita nada tem a ver com a conquista dessas Associações que são prévias à sua chegada em Dezembro de 1972 à direcção clandestina da UEC de Lisboa. Eu próprio fui eleito presidente da Direcção da Associação de Estudantes de Medicina em 1971, bem antes da chegada da Zita. Será que não se lembra? Ou não resiste a distorcer a informação para valorizar o seu papel? É mais provável a segunda hipótese. Este é apenas um exemplo de muitos que se poderiam extrair por quem viveu esses momentos conturbados que antecedem o «25 de Abril».
    O estilo mentiroso é tão descarado, no modo da fabulação, que se torna difícil a sua refutação analítica. Quase tudo é inventado, como quando conta um pretenso «ataque da UEC ao Técnico», em toda uma página (p. 245). O que aí se narra, como se pode apurar junto dos médicos Joaquim Judas (que, ao contrário do que escreve ZS neste relato, nunca na vida contactou ou foi ao Copcon!) e João Proença, foi tudo ao contrário. Numa reunião inter associações (RIA) que decorreu no IST alguns indivíduos de grupos pseudo radicais agrediram traiçoeiramente e brutalmente estudantes associativos vinculados à UEC, prática que já tinham exercitado antes do «25 de Abril» e de que eu próprio fui vítima em 1972. No dia seguinte, em resposta, muitos estudantes da UEC dirigiram-se ao IST para protestarem e fazerem uma demonstração de força, mas não houve qualquer confronto. ZS não tem peias em deturpar acontecimentos para denegrir a própria UEC que dirigiu, provavelmente com a finalidade de piscar o olho aos seus actuais amigos ex-maoistas, como Pacheco Pereira e Carlos Gaspar (este último, pasme-se, «encarregado da (sua) educação democrática», p. 397) os quais, como diz na entrevista da RTP, renunciam mais total e completamente à doença «comunista» infanto-juvenil do que os que foram do PCP.
    Na vã tentativa de se elevar a si própria e rebaixar Álvaro Cunhal, que é perseguido em «Foi assim» por um ódio simétrico à admiração idolátrica que lhe havia votado, Zita Seabra tenta desvalorizar a obra, «O Radicalismo Pequeno-Burguês de Fachada Socialista» (1970), considerando-a desactualizada, porque esgrimindo contra os esquerdistas de Paris, etc.. E diz: «A confusão ideológica que se gerou com esse livro foi tal que o Carlos Brito me pediu que fizesse um livrinho, um folheto, na mesma linha (…), mas colocando nele os grupos nacionais» (p. 165). Espantoso! Nem o livro está fora do país, porque, diga-se, esses grupos tinham sede em Paris e sucursal em Portugal, nem a preocupação de Álvaro Cunhal é uma pura descrição factual, mas a tipificação da ideologia e acção política, na sua diversidade, convergente unitariamente no ataque ao Partido. Nunca houve qualquer confusão ideológica resultante do livro, antes pelo contrário, foi extremamente útil no combate a esses grupos, cuja acção iria ser extremamente nefasta na Revolução de Abril. Um pequeno e significativo pormenor. ZS nunca escreveu nenhum folheto ou livrinho sobre o tema, mas isso não diz: serviu-se de um texto editado pela comissão técnica eleitoral do PCP em 1975, intitulado «O Maoismo em Portugal», que reeditou no jornal da UEC, em 1976, sem mencionar o autor, que é quem escreve estas linhas.

    Deturpação da Revolução de Abril
    e anti-socialismo militante

    O anticomunismo cego de ZS leva-a a não ver que a sua postura não é historicamente muito diferente em vários aspectos da que fundamentou o fascismo português, tanto na versão salazarista como marcelista. Para o regime fascista, o «comunismo» era o «mal», para Zita, enquanto militante de causa anticomunista, outro tanto se pode dizer, por muito estranho que pareça. A luta anti-fascista, com os sacrifícios que comportou, incluindo a sua própria pessoa na primeira identidade, parece estranhamente absurda, quase anedótica, fruto da despersonalização (dupla identidade) da autora nos seus relatos. Não vemos em «Foi assim» nenhuma crítica severa ao fascismo e à crueldade dos seus esbirros, menos ainda à exploração das classes trabalhadoras e injustiças sociais do regime, baseado no poder de uma oligarquia capitalista e agrária, cujo poder foi restaurado em muitos aspectos na contra-revolução pós-Abril.
    Zita Seabra, depois da mutação que, como se vê, não foi só epidérmica até já nem identifica o antigo regime como fascista. Diz, «o regime ditatorial» (p. 29), «uma ditadura completamente obsoleta para a Europa» (p.28), «o regime ditatorial português» (p. 336), e quando escreve «ditadura fascista», apaga a última palavra, com a explicação: «como se lhe chamava» (p. 34). Para os seus amigos de hoje é politicamente mais correcto agir com alguma brandura verbal em relação ao regime da velha senhora…
    O discurso político de Zita Seabra pauta-se por um tom categórico proporcional à sua inconsistência lógica e ideológica. Quando analisa o período marcelista deturpa totalmente a táctica do PCP, adulterando por completo o que se disse: «Quando vim para Lisboa, achávamos que tínhamos alcançado o primeiro objectivo de todos, impedir que Marcelo Caetano fizesse uma transição pacífica do regime salazarista para uma progressiva abertura do regime à democracia.» A luta das forças democráticas e especialmente do PCP contra as ilusões da demagogia liberalizante marcelista é grosseiramente invertida. Não ter Marcelo levado por diante a sua pretensa liberalização foi culpa do PCP. Lê-se e não se acredita!
    Quando está em preparação a Revolução de Abril, Zita ensaia pôr em dúvida o papel da direcção e do próprio PCP. Escreve isto, sem mais nem menos: «Com ou sem PCP a revolução ia fazer-se. E o certo é que nós, eu (no sector estudantil) e todo o restante aparelho clandestino que eu conhecia, nem por um segundo hesitámos e colocámo-nos de imediato ao lado dos oficiais (…)». Leia-se e releia-se: «eu e todo o restante aparelho…» A presunção megalómana fica a nu neste passo descuidado, que não deve ter sido convenientemente corrigido por Vasco Pulido Valente. A intenção óbvia é retirar o PCP do 25 de Abril; já agora, porque não, se tudo é permitido nesta prosa descabelada?
    A malévola intriga «zitista» tem incidência especial no caso do Jornal República e da Rádio Renascença. Todos sabem que tais incidentes de carácter nitidamente provocatório, tal como o ataque à Embaixada de Espanha, foram obra dos grupos «esquerdistas», inimigos implacáveis do PCP, que consideravam reformista e revisionista. A Zita, amiga da onça, consegue descobrir na Renascença «um único militante do PCP», para ajudar à sua missa negra ( p. 288).
    Zita Seabra tenta desfigurar a ética comunista, treslendo a brochura «A superioridade moral dos comunistas» (A. Cunhal), numa óptica de maquiavelismo primário. A moral comunista seria a imoralidade baseada no princípio de «usar todos os meios para atingir os seus fins» (p. 76). Em nenhuma parte do texto se diz tal coisa, nem é princípio do marxismo-leninismo. A partir daí, vai justificar todas as suas interpretações absurdas e caluniosas, como, por exemplo o seguinte: «Logo a partir do 1.º de Maio de 1974 o PCP empenhou-se diariamente a anunciar conspirações, golpes iminentes, contra-golpes reaccionários, de civis e militares, grandes perigos para o regime democrático». Para esta senhora, a revolução de 25 de Abril teria sido uma primavera marcelista se a esquerda e especialmente o PCP não atrapalhassem o trânsito. Tudo o resto foram «inventonas». A spinolada não existiu, o «28 de Setembro» não passou de uma data festiva, o «11 de Março» foi um festival aéreo, etc., etc.. A autora, faz aqui o contrário do habitual, em vez de confabular pela positiva, a mitomania compulsiva, procede por efabulação negativa: o que aconteceu não foi… Na mesma série, se inclui a insídia de sugerir que o Partido não pretendia eleições democráticas, quando esse é uma dos seus pontos programáticos essenciais da revolução democrática e nacional, objectivo da longa luta pela liberdade e por um regime democrático, em que ninguém, nem nenhum partido pode dar lições ao PCP. Milhares de comunistas perderam a liberdade para lutar pela Liberdade.
    Depois disto tudo passa a fazer a propaganda do «comunismo» por exagero e excesso, retórica utilizada para assustar os meninos e as meninas. A nacionalização da Banca e dos Seguros, medidas anticapitalistas tomadas após o 11 de Março, cuja iniciativa resulta do processo revolucionário e da movimentação das massas trabalhadoras, merece uma descrição irónica para agradar à sua actual plateia: «A economia entrou em nacionalizações sucessivas (…) e os capitalistas ou fugiram ou foram presos pelo Copcon, acusados de conspiração. Se não tinham conspirado, paciência, tivessem-no feito». (p. 261)
    Outra falsa teoria de ZS sobre a linha do Partido resulta de imaginar que o Programa da Revolução Democrática e Nacional, original concepção do Partido para o derrube do fascismo, seria uma cópia das obras de Lenine sobre a Revolução Russa, nas suas duas etapas. Tal resulta da sua incipiente consciência política teórica no passado, aliada à intencionalidade perversa da postura actual. É a própria ZS que diz após transcrever os oito pontos da revolução democrática e nacional: «todos nós sabíamos de cor esta enunciação». Mas para saber, não basta decorar… O adversário também pode saber de cor a linguagem marxista, mas não alcança o marxismo. No caso de Zita, o mais provável é ter ficado só com a cábula na cabeça.
    No prefácio à obra «O caminho para o derrubamento do fascismo – IV Congresso do Partido Comunista Português» (Edições Avante, 1997), eis como Álvaro Cunhal define as características identificadoras dos partidos comunistas e do movimento comunista em geral: «Uma, a completa independência dos interesses, da política, da ideologia, das pressões, ameaças e medidas repressivas das força do capital. Outra, a par da luta com objectivos imediatos, a luta pela transformação revolucionária da sociedade, pelo socialismo e o comunismo». (p. 48)
    Sem perceber nada disto, convertida à classe burguesa de origem, resta-lhe a magia verbal para apoucar o PC: «é um partido de pequenas causas», diz na RTP 1. As pequenas causas da luta pela justiça social, da luta das classes trabalhadoras pelos seus direitos, da luta por uma sociedade sem exploração do homem pelo homem, uma sociedade de igualdade e liberdade.
    A questão da derrota do sistema socialista na Europa de Leste e na Rússia parece ter sido a espoleta que levou Zita a virar o bico ao martelo. Compreende-se que uma transformação histórica de tal dimensão tenha abalado a consciência política de muitos. Mas é muito estranho que quem achava ter sido o PCP um sucedâneo da URSS, como exprime Zita no seu «Foi assim», fique perturbado pelo facto do Partido continuar a sua existência e luta, sem esse apoio internacional. Zita Seabra poderia ser, porventura, um bom exemplar da nomenklatura, na sua expressão mais negativa, daqueles elementos de uma casta burocrática de alguns partidos comunistas acomodados no poder, desligados do povo e habituados a soluções administrativas. Na sequência da perestroika, alguns converteram-se directamente ao capitalismo e serviram-se de posições para refazer uma classe exploradora e capitalista.
    Convém lembrar que o programa inaugural da perestroika era mais socialismo e democracia. Temos de admitir que essa possibilidade histórica existia, embora não se tenha concretizado. Esse programa foi desvirtuado, gerando-se uma dinâmica de restauração selvagem do capitalismo e de nacionalismos reaccionários. Na maioria dos países, passados mais de 15 anos, o nível de vida do povo ainda não recuperou o do sistema anterior.
    A pessoa de convicções não muda de cor devido a uma derrota. A teoria do materialismo dialéctico e histórico pode fundamentar modelos e soluções práticas diferentes das que se concretizaram na Europa no século XX. Reduzir a Teoria ao simplismo de Zita e consortes quando dizem que «a ideia do comunismo está errada, não apenas a sua prática», é apenas a expressão de uma opinião e uma profissão de fé. O mesmo se poderá dizer do capitalismo, cujo livro negro não tem mercado livre como as ideias de Zita Seabra. Ideias que são estranhamente cruéis e ferozmente antidemocráticas, como quando marca simbolicamente a derrota do socialismo na URSS na seguinte declaração, dirigida vingativamente a Álvaro Cunhal: «… foi derrotado…, no dia em que o Parlamento Russo foi cercado e bombardeado» (p. 401).
    Houve quem quisesse decretar o fim da história, após a desintegração da URSS. Esfumaram-se rapidamente as ilusões das promessas do sistema capitalista desenvolvido. O imperialismo à solta, sem contraponto, soltou as garras e multiplicaram-se guerras e morticínios. O capitalismo prossegue a sua ofensiva contra o trabalho e os trabalhadores, intensificando à escala mundial a exploração. A desigualdade social aumenta nos países capitalistas desenvolvidos, as assimetrias da globalização são brutais e sem remédio. É assim.
    Mas a luta continua, pelo aprofundamento da democracia, e por uma sociedade socialista aberta ao futuro, ao serviço do Homem.
    José Manuel Jara
    Médico psiquiatra
    Artigo publicado no Avante nº1756, de 26.07.2007

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